CONFORTO DE DEUS

 

27 de  julho de 2005                    

                                                                                                                            18.30H de quarta feira

                                 MEU DEUS !

Acho que é a primeira vez que, nesta data de aniversário, venho, expressamente, escrever-Te e abrir-Te o meu coração.

Em primeiro lugar, não posso calar a minha gratidão pela tua presença na minha vida, pelo teu suporte, junto de mim, desde aquela primeira hora em que o telefone tocou em nossa casa, na tarde de 26 de julho de 1991.

A caminho do hospital, já ias connosco. Sentaste-me no teu colo ,envolvendo-me , suavemente , nos teus braços, para aliviar daquela  cintura de ferro que nos queria mergulhar num oceano de medo e terror, numa dor que crescia, para desabar sobre a nossa vida, tão feliz até aquele dia!

Estavas ali, connosco. Eu sentia a serenidade da tua presença divina e inconfundível. Eu sei que eras TU!

Mesmo assim, o meu pensamento, se é que tinha pensamento, parou, afundou-se num silêncio pesado e sem sentido. E já não Te vi mais, quando, à noite, me trouxeram para casa, quando passei diante daquele quarto, agora vazio, quando me atirei para cima da minha cama e adormeci, exausta e desfeita.

E já não Te vi mais, quando , de novo, na madrugada seguinte, tive de acordar para a crueza daquela realidade, quando voltei ao hospital, quando trouxeram o corpo do meu filho, quando depus o último beijo , na sua fronte gelada e sem vida, quando fiz a viagem para o cemitério, quando , de pé, sem força de dar mais um passo, ouvi o som cavo da terra, caindo sobre a urna, que descera na sepultura.

Eu não Te vi mais, meu Deus, mas agora sei que estiveste sempre comigo. Como podias mesmo não estar? ...Só que eu era um destroço, demasiado grande, para ter consciência do que quer que fosse. O coração tinha sido triturado em mil pedacinhos de carne e sangue, numa dor sem fim e sem palavras, numa dor que até não tinha pranto.

E assim fiquei durante muitos dias. Dias escuros, horas de silêncio doído, no fundo dum abismo negro, despido de qualquer esperança.

Então , daquela vez, lá do fundo do meu abismo, lembrei-me de Ti. Chamei por Ti e, ao estender a mão e ao segurar a Bíblia, TU estavas lá , à minha espera, para me dares de novo a tua mão , para me fazeres voltar à vida, com a força da TUA PALAVRA reconfortante.

No Livro da Sabedoria .4, 7-15, foste dizendo:

O JUSTO PORÉM AINDA QUE MORRA PREMATURAMENTE GOZARÁ DE REPOUSO....UMA VELHICE VENERÁVEL NÃO CONSISTE NUMA LONGA VIDA, NEM SE MEDE PELO NÚMERO DE ANOS...TENDO-SE TORNADO AGRADÁVEL A DEUS, FOI AMADO POR ELE, FOI TRANSFERIDO POR DEUS, FOI ARREBATADO A FIM DE QUE A MALÍCIA NÃO LHE CORROMPESSE A INTELIGÊNCIA, NEM A ASTÚCIA LHE CORROMPESSE A ALMA.

CHEGADO À PERFEIÇÃO ATINGIU A PLENITUDE SE UMA LONGA VIDA. A SUA VIDA ERA AGRADÁVEL AO SENHOR , POR ISSO ELE APRESSOU-SE EM TIRÁ-LO DO MEIO DO MAL...

Foram estas as tuas palavras de conforto para o meu coração desfeito. 

E, a partir daquele momento, esta tua Palavra tem tido o poder de me guiar, de me sustentar e conduzir no caminho da saudade,   com a certeza de que , de longe ou de perto, continuamos a ser UM contigo, para todo o sempre!

Glória e louvor a TI, sem cessar! Bendito sejas, em nome de Jesus!