Jesus aprendeu no campo a sua linguagem. Quase nunca empregava palavras doutas, conceitos abstractos, termos incolores ou gerais. Os seus discursos hão-de ser floridos pelas cores, impregnados pelos odores dos campos e dos hortos, animados pelas figuras dos animais domésticos. Viu na sua Galileia, o figo que enche e amadurece sob as grandes folhas negras; viu os secos sarmentos das videiras cobrirem-se de pâmpanos verdes e de cachos louros ou roxos para alegria dos vindimadores;viu a mostardeira, nascida da invisível semente, erguer os ramos delicados; ouviu de noite o murmúrio lamentoso dos canaviais açoitados pelo vento ao longo da valas; viu sepultar na terra o grão que ressuscita feito espiga madura; viu os belos lírios vermelhos, amarelos, roxos, surgirem, aos primeiros bafos de ar tépido, por entre o verde tímido do trigo; viu os campos de erva fresca que hoje viceja e amanhã, já seca, vai arder no fogo. Viu os animais domésticos e os bravios : a pomba que arrulha de amor no telhado, vaidosa do seu lustroso colo; as águias que se precipitam sobre a presa com as largas asas abertas; os pássaros do Céu...a galinha amorosa que abriga os pintainhos sob as asas, mal o Céu escurece e troveja...( De " HISTÓRIA DE CRISTO" de Giovanni Papini)
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